terça-feira, abril 04, 2006

O Canadá dá (ou não)

As machetes nacionais enchem-se com o situação dos imigrante portugueses a residir ilegalmente no Canadá.

Desde que as autoridades Canadianas iniciaram o processo de notificação para o abandono de imigrantes ilegais do seu território e segundo fontes oficiais, o número de portugueses expulsos poder ascender aos 15.000, tem-se assistido a um "reboliço" no que toca quer à mediatização deste assunto, quer a um sem número de coligações de apoio aos indivíduos se encontram prestes a ser repatriados. Acerca desta situação, afiguram-se-me duas ou três considerações que parecem incontornáveis nesta questão:

1. Em primeiro lugar e doa a quem doer, apontar o dedo ao principal culpado de toda esta situação... ou seja, todo o indivíduo que decidiu em certa altura deixar a sua pátria mãe para rumar em direcção a uma vida melhor. Não que eu tenha nada contra quem, face às dificuldades vividas no seu país decida procurar um estilo de vida melhor. A minha questão prende-se unicamente com o facto da forma como tal transição é feita. É notório que quando se dá a transição, esta parte ab initio do princípio de má fé. Ou seja, o imigrante chega ao Canadá (e estou a falar na maioria das vezes, havendo certamente excepções) com um visto de turismo, válido por x tempo, e por lá fica, arranja trabalho, abre um negócio, tem filhos, compra um cão, um periquito, etc., sem se aperceber, ou preferindo ignorar que a sua vida está presa por cuspo e muitas rezas. Situação esta que se arrasta por anos a fio. O resultado, como é óbvio é que o imigrante que se quis aproveitar da boa fé do país que o acolheu, quando há dificuldades internas a gerir no país em que se encontra, tem tendência a ser prejudicado, ou melhor dizendo repõe-se uma justiça global muito peculiar. Não que o país acolhedor esteja isento de responsabilidades, e isso remete-nos para o próximo ponto.

2. Como é evidente o Canadá (como poderia ser qualquer país, Portugal inclusive) não sai imaculado no quadro. A mão de obra barata em épocas de desenvolvimento, nomeadamente no que respeita à construção é sempre bem vinda e faz muitas vezes com que Governos compactuem implicitamente com o fomento da mão de obra ilegal, arrastando e permitindo situações de ilegalidade durante tempo demais. Para os próprios habitantes do país é benéfico, porque os imigrantes se dispõem a realizar tarefas consideradas socialmente “depreciadas” mediante pagamentos muito abaixo dos praticados nesse país. Contudo, por mais desenvolvido que um país seja, as crises económicas, numa economia cada vez mais globalizada são cíclicas e quando os conflitos internos começam, há que dar prioridade “aos da casa” e todos os compadrios e ilegalidades até então permitidas são tratadas de uma forma célere e implacavelmente administrativa. Não que eu discorde, creio inclusive que Portugal deveria por olhos no exemplo (ou em parte dele) do Canadá. O que resta a fazer então aos deportados? Para isso existe o ponto 3.

3. Como se não bastasse o tal princípio da má fé utilizado pelos portugueses ao entrarem em território canadiano, a displicência e relaxamento com que conduzem a sua vida naquele país independentemente da condição precária, o pior verifica-se quando recebem a fatídica notícia da deportação. Tentam tudo, requerimentos extraordinários, e até o estatuto de refugiado. Estatuto este que é simplesmente uma das formas que mais contribui para denegrir a imagem de um país (que neste caso seria Portugal), mas em vão. A deportação está à porta e eles abandonam mesmo o Canadá... pela porta pequena e entram em Portugal por uma ainda menor. Pela porta de quem tudo fez para evitar regressar, denegrindo a imagem do país natal, sem qualquer sentido patriótico e ainda assim ao chegar com pedidos de apoio por parte das autoridades Portuguesas, sabendo no seu íntimo contudo que assim que haja hipótese irão novamente emigrar para o Canadá.

É triste, mas é assim... Não me cabe julgar (nem tenho competência para tal) os culpados desta situação, tanto mais que todos e reitero, todos os intervenientes têm a sua quota parte de responsabilidade perante este cenário. Apesar dos apesares eu sou um admirador confesso deste nosso cantinho à beira mar plantado e infelizmente cada vez mais o pior de Portugal vão sendo os (alguns) portugueses.